Reisado da Boa Hora mistura festa e fé há mais de um século
De 1º a 6 de janeiro a cidade de Boa Hora, localizada a 11 0km de Teresina, é palco de uma encantadora manifestação de fé dança e música. É nesse período que acontece o tradicional Festejo de Santo Reis, mais conhecido como Reisado da Boa Hora que há mais de 100 anos resiste ao tempo, atraindo turistas de várias regiões do país. Diversos Bois circulam por todos os povoados e localidades, numa maratona intensa de até 14 horas por dia. Caretas, cantadeiras, sanfoneiro e mandadores percorrem quilômetros noite adentro, visitando as casas e levando a imagem de Santo Reis como forma de abençoar a residência que recebe a visita e arrecadar dinheiro para o pagamento de todos os custos de um grupo de Reisado.Os primeiros dias do ano são bem intensos para todos os moradores da cidade. São vários os parentes distantes e visitantes que vêm de diversas regiões do Brasil para passar as férias com a família e principalmente acompanhar os folguedos.
Não precisa caminhar muito para logo avistarmos uma casa com dezenas de pessoas à porta: é mais um Boi se apresentando.
Os caretas seguem um ritual de prosa com o dono da casa, em um diálogo de difícil entendimento, seguidos de um sapateado e a dança de briga com o Boi, açoitando-o e girando ao seu redor. Ao mesmo tempo em que o Boi de forma harmônica vai fazendo uma espécie de dominação do seu espaço até derrubar os três caretas. O toque da sanfona é intenso, e o público participa com gritos e palmas nas estreitas ruas de carroçal.
A madrugada segue adentro e a temperatura diminui cada vez mais por conta do período chuvoso na região, chegando a densa neblina. Mas nada chega a afastar as pessoas que vêm preparadas com seus casacos e chapéus para acompanhar mais uma longa noite de festa.
Deitado numa rede, numa tarde abafada em sua casa simples e de cores vivas, está Seu Neca, um dos pagadores de promessa e “dono” do Boi Bugarinho, da localidade Mato Seco. Vinte e oito anos depois, Seu Neca ainda conta com emoção o dia em que fez a promessa a Santo Reis. Seu filho, com apenas um ano, veio a Teresina com fortes dores de cabeça, o que futuramente viria a ser uma Hidrocefalia, ou como chamam no popular, “água na cabeça”. O médico, com todas as palavras disse a Seu Neca que as chances de seu filho sobreviver eram mínimas por conta da evolução da doença e da pouca idade da criança.
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