Cristãos devem responder ao mal com o bem, diz Papa na Via Sacra
Papa Francisco presidiu no Coliseu primeira Via Sacra de seu pontificado
Celebração lembrou sofrimento dos povos muçulmanos do Oriente Médio.
Do G1, em São Paulo
O Papa Francisco celebrou nesta Sexta-Feira Santa, no Coliseu de Roma, a primeira Via Sacra de seu pontificado, e disse que os cristãos têm que responder ao mal com o bem, como fez Jesus na Cruz.
Diante de várias dezenas de milhares de pessoas que foram ao Coliseu, o pontífice disse que não queria acrescentar muitas palavras, "já que nesta noite deve permanecer uma só palavra, que é a própria Cruz".
"A Cruz de Jesus é a palavra com a qual Deus respondeu ao mal do mundo. Às vezes nos parece que Deus não responde ao mal, que permanece em silêncio. Na realidade falou, respondeu e sua resposta é a Cruz de Cristo", disse o Papa.
O Papa Francisco ri ao chegar nesta sexta-feira (29) ao Coliseu, em Roma, para liderar a Via Sacra, primeira de seu pontificado (Foto: Reuters)
O pontífice ressaltou que a Cruz é amor, misericórdia, perdão e também julgamento.
"Deus nos julga nos amando, se acolho seu amor estou salvo, se o rejeito, me condeno, não por ele, mas por mim mesmo, porque Deus não condena, Ele só ama e salva. Não esqueçam isto", disse.
O Papa saudou no Coliseu a amizade com os muçulmanos do Oriente Médio e relembrou a viagem do agora Papa Emérito Bento XVI ao Líbano, quando "vimos a beleza e a força da comunhão dos cristãos daquela terra e da amizade de tantos de nossos irmãos muçulmanos e de muitos outros".O Papa, de 76 anos, que acompanhou da colina do Palatino boa parte da Via Crucis, sem percorrer a pé as 14 estações, agradeceu "o testemunho dos nossos irmãos do Líbano" que escreveram meditações e orações a pedido de seu antecessor, Bento XVI.
Bento XVI encomendou as meditações lidas nesta Via Crucis ao patriarca da Igreja maronita libanesa, Bechara Rai, que por sua vez pediu a dois jovens a redação do texto.
Esta foi uma forma de destacar o drama que vive o Oriente Médio, com a guerra na Síria, a difícil coexistência entre muçulmanos e cristãos, e a fuga de muitos cristãos perseguidos da região.
Mais cedo, o Papa Francisco celebrou a missa da Sexta-Feira da Paixão na Basílica de São Pedro.
Sob o ouro e o mármore da Basílica, o pregador da Casa Pontifical, o padre capuchinho Raniero Cantalamessa, comparou a Igreja a um "edifício antigo" e pediu que Francisco a "conduza à simplicidade e à linearidade de suas origens".
Francisco, com fisionomia grave, vestido com a casula vermelha com as cores da Paixão, ouviu atentamente Cantalamessa, que declarou que esta missão havia sido confiada por Deus no século XIII a São Francisco de Assis, que teve seu nome retomado pelo 266º pontífice da Igreja Católica: "Vá e reforme a minha casa".
O Papa beijou o Cristo crucificado, que foi levado a ele, colocando suavemente a sua mão sobre a face de Jesus.
Mudanças
Francisco, o primeiro jesuíta que chega ao trono de Pedro, deixou claro em pouco mais de duas semanas de pontificado que deseja uma mudança desta milenar instituição, cuja imagem foi manchada nos últimos anos por lutas internas de poder, abusos sexuais de menores por sacerdotes ou pela atividade econômica nebulosa do banco do Vaticano.
No entanto, os analistas preveem que não será fácil alcançar seus objetivos, devido à resistência dos que preferem manter o status quo.
Talvez, a mensagem mais contundente tenha sido dada pelo Papa na Quinta-Feira Santa. Demonstrando a importância da proximidade com os mais necessitados, Francisco se dirigiu ao centro de detenção de menores de Roma, Casal del Marmo, onde celebrou uma missa diante de quase cinquenta jovens - 35 meninos e 11 meninas de 14 a 21 anos - e lavou os pés de 12 deles em uma cerimônia que lembra a última ceia de Jesus com os doze apóstolos.
Ajoelhado no chão frio sobre um simples pano branco, Francisco lavou, secou e beijou os pés de dez meninos e duas meninas de diferentes nacionalidades detidos neste centro, dois deles muçulmanos, retirando esta cerimônia simbólica de seu ambiente habitual, a suntuosa basílica de São João de Latrão, na capital italiana, e de seus protagonistas habituais, os sacerdotes.
"Quem está no ponto mais alto deve servir aos outro', "ajudar os demais", disse o Papa, levando para o coração da Igreja de Roma um costume que, como cardeal, Jorge Mario Bergoglio costumava realizar na sua Argentina natal.
O Papa Francisco durante a Via Sacra no Coliseu de Roma nesta sexta-feira (29) (Foto: AP)
Via Sacra presidida pelo Papa Francisco nesta sexta-feira (29) no Coliseu de Roma (Foto: AP)
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