Missa do Papa em Santa Marta
Fugindo de Deus
Para ouvir a voz de Deus na própria vida é preciso ter um coração aberto às surpresas. Caso contrário o risco é de «fugir de Deus», encontrando às vezes até uma boa desculpa. E pode acontecer que exactamente os cristãos sintam a tentação de fugir de Deus e as pessoas «distantes» ao contrário consigam ouvi-lo, disse o Papa Francisco na celebração da missa na manhã de segunda-feira, 7 de Outubro, em Santa Marta, sugerindo um caminho seguro: deixemos que Deus escreva a nossa história.
O bispo de Roma, na homilia, tomou como paradigma a história de Jonas, comentando a primeira leitura (1, 1-2, 1.11): ele «tinha toda a sua vida bem organizada: servia ao Senhor, talvez rezasse muito. Era um profeta bom e praticava o bem». Dado que «não desejava ser incomodado no método de vida que tinha escolhido, no momento em que ouviu a palavra de Deus começou a fugir. E fugia de Deus». Assim quando «o Senhor o enviou a Nínive, embarca-se para a Espanha. Fugia do Senhor».
O bispo de Roma, na homilia, tomou como paradigma a história de Jonas, comentando a primeira leitura (1, 1-2, 1.11): ele «tinha toda a sua vida bem organizada: servia ao Senhor, talvez rezasse muito. Era um profeta bom e praticava o bem». Dado que «não desejava ser incomodado no método de vida que tinha escolhido, no momento em que ouviu a palavra de Deus começou a fugir. E fugia de Deus». Assim quando «o Senhor o enviou a Nínive, embarca-se para a Espanha. Fugia do Senhor».
No final, explicou o Pontífice, Jonas já tinha escrito a própria história: «Quero ser assim, assim, assim, segundo os mandamentos». Não queria ser incomodado. Eis a razão da sua «fuga de Deus». Uma fuga, advertiu o Papa, que hoje nos pode ver protagonistas.
«Pode-se fugir de Deus – afirmou – sendo cristão e católico», até mesmo «sendo sacerdote, bispo ou Papa. Todos podemos fugir de Deus. É uma tentação diária: não ouvir Deus, não escutar a sua voz, não ouvir no coração a sua proposta, o seu convite».
E se «se pode fugir directamente», continuou, «há outras maneiras de fugir de Deus um pouco mais educadas, mais sofisticadas». A referência é ao trecho evangélico de Lucas (10, 25-37) que narra de «um homem, moribundo, deitado no chão. Por acaso um sacerdote percorria aquela mesma estrada. Um digno sacerdote, vestido com o talar: muito bem. Viu e pensou: chegarei tarde à missa, e foi embora. Não ouviu a voz de Deus ali». Trata-se, explicou o Papa, de «uma maneira diferente de fugir: não como Jonas que fugia claramente. Depois passou um levita, viu e talvez tenha pensado: mas se eu o ajudo ou se me aproximo dele, talvez eesteja morto, e amanhã tenho que ir ao juiz e testemunhar. E foi embora. Fugia da voz de Deus este homem».
Ao contrário, é «curioso» que quem «teve a capacidade de entender a voz de Deus» tenha sido «só» um homem «que habitualmente fugia de Deus, um pecador». De facto, frisou o Pontífice, «quem ouviu a voz de Deus e se aproximou» do homem necessitado de ajuda «foi um samaritano, um pecador» distante de Deus. Um homem, realçou, que «não estava acostumado às práticas religiosas, à vida moral». Estava teologicamente no erro «porque os samaritanos acreditavam que Deus devia ser adorado noutro lugar» não em Jerusalém.
Mas precisamente esta pessoa «compreendeu que Deus o chamava; e não fugiu». Sim «aproximou-se» do homem abandonado, «enfaixou-lhe as feridas derramando sobre elas óleo e vinho. Depois, carregou-o no seu cavalo. Mas quanto tempo perdeu: levou-o a um albergue e cuidou dele. Perdeu uma noite!». Entretanto, frisou o bispo de Roma, «o sacerdote chegou em tempo para a santa missa e todos o fiéis ficaram contentes. O levita teve um dia seguinte tranquilo, segundo o que ele pensava fazer», porque não teve que ir ao juiz.
«E por que – perguntou-se o Papa – Jonas fugiu de Deus? Por que o sacerdote fugiu de Deus? Por que o levita fugiu de Deus?». Porque – respondeu – «tinham o coração fechado. Quando temos o coração fechado não podemos ouvir a voz de Deus. Ao contrário, o samaritano que estava em viagem, viu aquele homem ferido» e «teve piedade dele. Tinha o coração aberto, era humano». E a sua humanidade permitiu-lhe que se aproximasse dele.
«Jonas – explicou – tinha um projecto para a sua vida: queria escrever a sua história segundo Deus. Mas ele escreveu-a, o sacerdote e o levita também. Um desígnio de trabalho. O pecador, no entanto «deixou que Deus escrevesse a sua vida. Mudou tudo naquela noite», porque o Senhor o pôs diante «daquele pobre homem, ferido, deitado no chão».
Pergunto-me – prosseguiu o Pontífice – e pergunto também a vós: «deixamos que Deus escreva a nossa vida ou queremos escrevê-la nós? E isto nos fala da docilidade: somos dóceis à Palavra de Deus? Sim, eu quero ser dócil. Mas temos capacidade de a escutar, de a ouvir? Temos capacidade para encontrar a Palavra de Deus na história de todos os dias ou as nossas ideias são as que nos regem e não deixamos que a surpresa do Senhor nos fale?».
«Estou certo de que todos nós hoje – concluiu o Papa Francisco – neste momento, dizemos: mas este Jonas mereceu isto e aqueles dois, o sacerdote e o levita, são egoístas. É verdade: o samaritano, o pecador, não fugiu de Deus!». E formulou votos para que «o Senhor nos conceda que ouçamos a sua voz que nos diz: Vai e também tu faz assim».
Nenhum comentário:
Postar um comentário